sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Materia da revista Galileu é tema do ENEM 2011




Até setembro de 2010, 3 vizinhos do bairro Dirceu Arcoverde, o mais populoso de Teresina, Piauí, compartilhavam uma assinatura de banda larga. Como nenhum poderia bancar sozinho a mensalidade de R$ 180, contrataram uma conexão Oi/Velox e dividiam o valor igualmente. Mas a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) não gostou. Apreendeu o equipamento e multou em R$ 3 mil o dono da assinatura. A alegação é de que ele havia instalado um provedor de internet ilegal — embora não tivesse lucro. “Em vez de cobrarem o barateamento de preço e uma oferta abundante de banda larga, penalizaram o cidadão que estava se virando para acessar a internet”, diz o cientista político e membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil, Sérgio Amadeu. 

Navegar na web não é simples por aqui. Menos de um quarto da população do país tem internet em casa ou no trabalho. Nossa banda larga é uma das mais caras do mundo — média de R$ 70 por 500 MB, enquanto no México sai por menos de R$ 30. No Reino Unido, um pacote de 3 GB custa cerca de R$ 40. Para ajudar a espalhar internet por aí, sem depender do governo ou da iniciativa privada, algumas pessoas têm simplesmente tirado as senhas de seus sinais de wi-fi. “Sou a favor de uma reforma agrária do ar. O espaço eletromagnético é um bem público, comum a todos. Infelizmente, acaba sendo loteado para poucos que podem pagar”, diz a produtora cultural gaúcha Elenara Cariboni Iabel, 47 anos.

A ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano — assim como saúde, moradia e educação. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de wi-fi, organizações e governos se mobilizam para expandir a rede para espaços públicos e regiões onde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito. Em meados de maio, voluntários do NYCWireless, grupo que trabalha pela internet aberta em Nova York, instalaram os primeiros roteadores do recém-lançado plano da prefeitura para conectar de vez a cidade. “Chegaremos ao ponto de abertura total do wi-fi”, diz Clotilde Perez, pesquisadora do Observatório de Tendências da USP. “Mas ainda há um caminho a ser feito.”



REDE NA PRAÇA
Ativistas pela internet livre ao redor do mundo vêm batendo nesta tecla: levar wi-fi para parques, praças, rodoviárias e bibliotecas. Essa é uma das causas da organização sem fins lucrativos Wireless Toronto, no Canadá, que também trabalha para ajudar pequenos comércios a oferecer wi-fi livre para seus clientes e divulga em mapas os pontos de internet livre na cidade. “Nós amamos os espaços públicos e queremos vê-los sendo ocupado e usado de novos modos”, diz Gabe Sawhney, fundador do grupo.


O wi-fi aberto e gratuito em áreas verdes como o Bryant Park, o Madison Square e o Wagner Park já são atrativos para quem mora ou passa por Nova York. Em parte, graças ao trabalho de organizações ativistas como a NYCWireless, que instala roteadores a pedido de quem quer financiar wi-fi em uma área de uso comum da cidade. Mas isso é apenas parte do trabalho. Outra importante parcela é a atuação política. “Transformamos a internet pública em uma questão primária para a administração de Nova York”, diz Dana Spiegel, diretor do grupo.


Os membros da NYCWireless estiveram envolvidos em discussões na Comissão Federal de Comunicação e no Conselho de Tecnologia da Cidade. Mas a maior evidência de seu diálogo com o governo foi o convite para instalar, na região entre as pontes Brooklyn e Manhattan, os primeiros roteadores do plano lançado pela prefeitura para tornar Nova York a cidade digital número 1 dos EUA. O projeto foi anunciado em meados de maio depois de uma pesquisa revelando que os nova-iorquinos estavam sedentos por mais internet aberta pela cidade. Provê-la seria um papel do governo.

Fonte: Revista Galileu